Os níveis da vida | Julian Barnes
Lembro-me de ler no instagram da Bertrand uma citação deste livro, na altura tirei-lhe um print screen e adicionei o livro à wishlist (deixo-vos em baixo a citação). Este livro começa por ser sobre balonismo mas cedo nos apercebemos que esta actividade é explorada até ao seu íntimo, revelando assim o carácter dos personagens. É muito difícil falar acerca da história deste livro pois é ao mesmo tempo tão ampla e tão específica que me baralha.
Ao início conta-nos as origens do balonismo: as primeiras viagens, os primeiros contratempos, as primeiras pessoas que viajaram. Ao passarmos para a apresentação das personagens começamos a perceber a inteligência deste autor que tão subtilmente associa o balonismo à vida. Passamos depois para a fotografia, para a associação do balonismo à fotografia e o que daí resultou. Continuamos a acompanhar as mesmas personagens e as suas relações. Para quem não se interessa particularmente por nenhum destes temas não se preocupe porque eu também não me interessava e o livro continuou a ser bem interessante.
Mais tarde, já na última parte do livro passamos para uma realidade muito específica e muito pessoal: a morte da mulher do autor. Isso mesmo. A morte de Pat Kavanagh, mulher de Julian Barnes que faleceu em 2008. Se até aqui o livro se afigurava interessante mas um pouco estranho, a partir daqui ganha contornos delicados que me emocionaram muito. A sinceridade e abertura do autor para nos contar a sua história é desarmante. Não há forma de escapar às lágrimas. Foram marcações atrás de marcações e tive de parar várias vezes. É tudo tão real, houve uma identificação muito forte comigo própria caso me visse na mesma situação. Este autor escreve muito bem, uma escrita simples e delicada, com comparações das mais bonitas que já li. É possível imaginar o autor a escrever isto e desejei muito ter conhecido este casal maravilhoso. O seu sentimento de perda é palpável. Como leitora senti-me impotente e muito impressionada.
As referências à pintura, à ópera, à literatura, deram-me vontade de conhecer mais. Adorei as interpretações do autor para alguns dos espectáculos a que assistiu. Pega também em algumas expressões de artistas que descreveram a perda e o luto e tenta entendê-las, acrescentado sempre o que sentiu e ainda sente. No final do livro fiquei com uma vontade muito grande de escrever a este autor, tentar confortá-lo com as minhas palavras. Não o fiz porque sei que ele não precisa disso.
Adorei a última parte do livro, foi aí que realmente criei ligação com este autor. Mas a forma como as primeiras duas partes fazem sentido depois da leitura da última, é impressionante. Copiando as palavras que li na contracapa, Julian Barnes é "um mago do coração".
"Juntamos duas pessoas que ainda não se tinham juntado. Às vezes é como a primeira tentativa para prender um balão de hidrogénio a um balão de fogo: preferimos que se despenhe e arda ou que arda e se despenhe? Mas às vezes resulta, e algo de novo se faz e o mundo transforma-se."
Minha pontuação no Goodreads: 3.5