Opinião | Morra, amor de Ariana Harwicz
Descobri este livro ao ouvir uma opinião da jornalista e escritora Tati Bernardi no podcast "Calcinha Larga" (se vos apetecer dar umas valentes gargalhadas, recomendo). Este é o romance de estreia da escritora argentina Ariana Harwicz, e que bom que começamos a reconhecer estas autoras contemporâneas, onde narra na 1ª pessoa a luta interior de uma mulher que dá por si presa a uma vida que a sufoca e deprime. Esta mulher é casada e mãe de um recém-nascido e vive no interior de França. A narração é feita de forma crua, dá logo para perceber que estamos perante um texto sem filtros, onde a mulher dá voz aos seus desejos e medos.
Se tivéssemos a possibilidade de conhecer esta personagem e perguntar-lhe o que sente e pensa, ela entregar-nos-ia este livro. O horror, talvez se sinta sobretudo o horror que a personagem tem por si própria e pela sua vida. Mas não, não é um livro de terror, é simplesmente arrepiante pensar que alguém se debate com esta imensidão de questões - o peso da condição feminina, a brutalidade e injustiça da maternidade, os desejos reprimidos, a falta de afecto - sem poder manifestar a sua verdade. A mulher está numa prisão, dentro de si própria e dentro da ideia de família que construíram. Fiquei arrebatada por cada situação que a personagem vivencia ou relata. Talvez, para ela o único caminho seja mesmo matar o suposto amor.
E eu? Uma mulher normal, de família normal, mas uma excêntrica, perdida, mãe de um filho e com outro, quem sabe a esta altura, a caminho. Enfiei devagarinho a mão na calcinha. E pensar que sou a encarregada de zelar pela educação do meu filho.