O rosto de Deus | Ana Teresa Pereira
Ainda estou atordoada com esta leitura. Não conhecia a escritora nem nunca tinha ouvido falar, trouxe este livro por recomendação. Ao pesquisar um pouco mais sobre ela descobri que é muito reservada, mesmo nas suas raras aparições públicas para receber os prémios que já ganhou. Talvez por isso fosse para mim desconhecida.
Não tenho a certeza de ter entendido completamente o livro mas adorei a experiência de leitura - desde o desconforto, passando pelo humor, terminando meia assustada. Sim, é possível. A autora vai jogando com as emoções do leitor como bem entende e nós só conseguimos segui-la. Queremos saber o que vem a seguir ou porque não ficamos satisfeitos com a explicação ou porque ficamos intrigados com a confusão das descrições. Uma das personagens principais - Tom - tem tudo a girar à sua volta sem nunca sabermos o que vai na sua cabeça, mesmo os diálogos com ele são bastante raros e, no entanto, creio nunca ter conhecido uma personagem tão intrigante quanto esta. A impressão que temos dele é apenas a que nos é dada pelos outros personagens. Impressões vagas e ao mesmo tempo potentes.
Ao início pareceu-me que a autora estava a escrever poesia em prosa tal é o requinte e douçura da sua escrita. No entanto, também consegue semear o medo e ser implacável. Esta dualidade (que emprega sem esforço) dá muita profundidade ao livro.
O livro está dividido em duas partes para nos dar a conhecer duas perspectivas. Gostei especialmente do mistério que paira no ar e que fica sempre por esclarecer (caso contrário não seria mistério). Penso que este livro trata do poder que os outros podem ter sobre nós e sobre esta vontade tão humana que temos ao pensar que o amor nos funde num só, mas talvez me tenha passado ao lado a mensagem mais importante.
Para mim "O rosto de Deus" é a ofuscação do amor.
Fiquei muito impressionada com a autora, vou querer ler mais.
Minha pontuação no Goodreads: 3,5 (se fosse possível)