Instrumental | James Rhodes
Ler este livro é como viajar até ao espaço: conhecer uma nova realidade através dos olhos de James Rhodes. Não será, com certeza, um livro para todos os leitores. Causa estranheza, impressão. Trata-se da história de vida de um homem que a certa altura foi diagnosticado com doença bipolar, perturbação de stress pós-traumático aguda, autismo, síndrome de Tourette, depressão clínica, tendências suicidas, anorexia, perturbação de indentidade dissociativa e transtorno de personalidade borderline. Mas para além da história que apenas posso descrever como impressionante, temos acesso aos seus pensamentos sem filtro, o que inevitavelmente cria empatia por parte do leitor. E pelo meio de toda a confusão e loucura há pequenos pontos onde nos vemos reflectidos.
Adorei o livro e o James logo nas primeiras páginas. Gostei muito da abordagem que trouxe à música clássica, identifiquei-me com o tipo de pessoas mencionadas que ouve este género de música sem perceber muito acerca da sua origem e técnica. Oiço-a porque me ajuda a reflectir e por vezes a escrever, e por isso para mim foi fácil perceber como se tornou para James num porto seguro. No início de cada capítulo é-nos apresentada uma breve biografia do compositor e de como e quando compôs a obra mencionada. Quase todos os maiores compositores nasceram em famílias disfuncionais, desenvolveram doenças obsessivas e viveram na miséria. Para James era óbvio qual era o caminho a seguir, difícil era percorrê-lo. A certo ponto (quase no final) deixei de perceber a sua lógica, quando pensei que finalmente tivesse compreendido um pouco o autor, ele prova novamente como é completamente imprevisível (ou talvez afinal essa imprevisibilidade seja previsível).
O livro faz também críticas fortes à indústria da música clássica, aos colégios elitistas, e principalmente à forma como hoje em dia toda a gente parece viver abstraída das coisas que se passam à sua volta.
E o abuso sexual? Para James foi e será sempre uma fenda profunda por resolver. É assustador perceber o impacto que estes acontecimentos tiveram na sua vida, como se tudo o resto tivesse sido consequência disso. Os danos causados são abismais. Este livro abriu-me os olhos, é urgente estar atento.
"À minha frente há duas portas. Uma diz "Vida Boa", a outra "Inferno". Além de escolher a porta mais negra fi-lo a assobiar, como se nada fosse, arregaçando as mangas deliberadamente. Pavoneei-me como o maior palerma do mundo rumo ao Armagedão."
Minha pontuação no Goodreads: 4*